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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Título*

pedro, 13.07.07


Estatisticamente, noventa e dois por cento, ou mais, talvez menos, ou vai-se a ver e é mesmo isso, das criaturas que ligam para o Opinião Pública, o já afamado espaço de debate do canal noticioso que, na minha televisão da sala, está antes do Fox, não tiram o som ao televisor. Seria de supor que, por esta altura, tal regra basilar estivesse por todos interiorizada. Não dá para ligar para o Opinião Pública e ter a televisão alta. Pronto. Não há volta a dar nesta matéria. Nem para o Jogo da Mala dava, e aquilo era rádio. Ainda dá isso? Eu esquecia-me do valor no preciso momento em que ela era dito. É como quando oiço indicações para chegar a algum lado. Acho que já me disseram que tenho um acentuado distúrbio do défice de atenção. Só não tenho certeza que me disseram porque me distraio sempre com alguma coisa que vai a passar. Um pássaro, uma pessoa, um carro, nada, tudo. Ou vejo uma pedra no chão e fico fascinado. Coisas assim. Acho eu, mas posso mandar ver isso. Sucede que no Opinião Pública, se a televisão tiver com o som a um nível respeitável, ouve-se eco e/ou/com tudo sobreposto, dizem eles e eu confirmo. Quando ligo para lá, para lá ou para qualquer lugar, já agora, até faço questão de ter eco, mas isso é porque gosto de parecer Deus. Da mesma forma que me chateiam as pessoas que ligam para o Opinião Pública e têm a televisão a berrar, chateia-me que a Marta Atalaya peça sempre às pessoas para tirar o som todo ao televisor. Havia de ser bonito, ver Deus a sério ligar para o Opinião Pública e a Maria Atalaya pedir-Lhe para tirar o som do televisor porque estava a fazer eco. “Mas eu sou Deus. Falo assim.” Que idiota, esta Márcia Atalaya, como se houvesse televisão no céu. Nem há em aviões, quanto mais. Antes que m’esqueça, devo, sob pena de, se não o fizer, passar pelo gajo mais egoísta do planeta, tornar público que ouvi hoje um homem feito, crescido e tudo, a assobiar uma música do Scatman John. Em dois mil e sete. Isto, a meu ver, é transcendente. Porque esta merda é involuntária. Sei porque já m’aconteceu andar uma semana a trautear a My name is Luka da Suzanne Vega. É tipo síndrome de Tourette com música má em vez de palavrões. Não conseguia parar. Qu’i caralho, agora fui-me lembrar disso. Pronto, já vou andar uns dias com isto na cabeça. Já está. Esta frase já foi escrita enquanto ecoava a parte do “I live on the second floor”. Bastante pior servido está o gajo que vi hoje, que assobiar ski-ba-bop-ba-dop-bop é uma cruz bem mais pesada. Porque, aos olhos da pessoa de bem e com as prioridades e embirrações de morte bem definidas, assobiar já é nojo que chegue. "Just don't ask me what it was". Assobiar o ski-ba-bop-ba-dop-bop ou porra que o valha, enfim, é andar a pedir chuva da grossa. Pedraço, do pesadinho, tipo tijoleira para o chão da sala. O indivíduo que mais vi pedir chuva em toda a minha vida foi um daqueles que corta as unhas no metro. Postava-se o indivíduo, na prática dessa intensa e singular sociopatia de enviar ADN para cima de desconhecidos, mesmo ao lado dum senhor que, chapadamente, apreciava bastante o chamado arraial de porrada gratuita. Até porque tinha uma revista sobre Pitbulls e, não fosse esta ocorrência já sinal evidente da característica prevista, portava ainda umas matracas no bolso frontal das jardineiras. Eu bem que rezei para que uma unha caísse naquele espacinho bocal que há nas pessoas que têm o lábio de baixo pendurado e a boca sempre aberta. O gajo grande, da revista de bóbis maus, jardineiras e matracas tinha esse espacinho. O que eu pedi que lá caísse uma unha. Para animar o metro, que os romenos do acordeão parece que só sabem a Cheira a Lisboa e a Bésame Mucho. Mas não aconteceu. Este mundo, por vezes, é duma injustiça atroz. "I live upstairs from you". Aproveitando a referência, registe-se em acta que a Cheira a Lisboa tem a letra mais lixada de decorar de sempre. E, não penses que m’esqueci, Margarida Atalaya, mas tem que se tirar o som todo à televisão porquê? A senhora tem noção de que muita gente neste país não faz ideia de onde está e para que serve um botão de mute? Ou a senhora acha que ir carregando no menos até todos os paus de som desaparecerem, e considerando que o volume estava no máximo ou próximo disso, é fácil e rápido? Não sabe que, em televisão, tempo é dinheiro? Para quê obrigar as pessoas a tirar o som todo ao televisor? Porque é que não pede para baixar até meio, vá, de modo a que já não se oiça no hall de entrada onde está o telefone e de onde, idilicamente, o participante está consumar a sua participação no espaço de debate? Custava muito, Mariana Atalaya, dizeres às pessoas “olha, ia-lhe só pedir para baixar o som do seu televisor o suficiente para não se ouvir no hall de entrada onde está o telefone e de onde, idilicamente, está a consumar a sua participação neste espaço de debate”? Até podias usar outro advérbio, que até há bastantes, só eu conheço mais de trezentos e quarenta e picos. Não te impinjo o idilicamente, longe de mim querer impingir um idilicamente a alguém. E, gostava eu de saber, se o importante é que o televisor fique sem som, por que porra não pede a Marisa Atalaya que as pessoas desliguem o aparelho? Hã? Não é mais rápido que carregar no menos? É que, não sei se isto é do conhecimento geral, mas há telecomandos cujo botão do menos do volume não reconhece o “deixar o dedo”. Exacto, tem que se carregar dez vezes para tirar dez paus de som. Nove para tirar nove. Oito para tirar oito. Sete para tirar sete. E assim sucessivamente. Pensavam que ia até ao um com esta brincadeira, mas bem que se lixaram com a expectativa. Eu bem sei porque não se pede aos participantes para desligar a televisão. E depois como era das audiências, n’era, Marta? Pois, convém manter o povo na penumbra, sem saber que é muito mais prático desligar o aparelho, porque isso já ia mexer com o vosso bolso, n’era, Márcia? Aproveito para declarar, em primeira-mão, mas muito pouco rigoroso exclusivo, que desde há vários anos que tenho o salubre hábito de desligar todas as TV’s com o som no máximo. O truque, para não se passar por maluco enquanto o som não atinge os píncaros, é carregar no mute, meter o máximo de paus de som, tirar o mute e, acto contínuo, desligar a televisão. Se for feito profissionalmente, só se ouve um “FLÃÃÃÃN” mínimo. Garanto-vos. Depois é só irem para o quarto e esperar que chegue alguém para ver um programa ou um filme ou uma série ou um concurso ou um telejornal ou um jogo ou uma telenovela ou isso ou outra coisa. A pessoa liga a televisão, aquilo, claro, está com um nível decibélico absolutamente parvo. A pessoa, atrapalhada, lá carregará no botão do menos. Nunca no mute. Não sei porquê, mas é assim que sucede. Fenómeno inexplicável, suponho. Mas só porque não estou com pachorra para o explicar. Ora, em seguida, o que costumo fazer, e que recomendo a todos, é dirigirem-se rapidamente ao local onde a pessoa está a tentar baixar o som e mostrarem-se teatralmente indignados. O ideal é levarem até um livro na mão, para dar a entender que estavam a ler, ou até fingirem que estavam a dormir porque amanhã têm uma operação às sete da manhã e a pessoa está ali feita parva a ouvir televisão altíssimo. Enfim, é simultaneamente divertido e uma forma da outra pessoa ficar a achar que nos deve um sentido pedido de desculpas. E, já se sabe, de um pedido de desculpas para um emprestar dinheiro ou um disponibilizar-se para um relacionamento sexual, idealmente sem as carícias anteriores e posteriores que o género feminino tanto valoriza, é um saltinho. Em hotéis, ou casas de outras pessoas, também desligo as televisões com o volume no máximo. Mas, nesse caso, só posso imaginar o que se terá passado, quem terá passado por maluquinho e essas coisas. É como quando vou ao supermercado e abano parvamente todas as garrafas de Fanta. Reconforta-me a mera ideia da garrafa de Fanta a ser aberta, em pleno jantar familiar, e a transformar-se numa fonte de refrigerante que borrifa todos. Ficam todos de mau humor e são estas coisas que depois causam divórcios e arrasam famílias. Tudo porque eu abanei garrafas de Fanta no supermercado. Curiosas, estas ligações. Às vezes, cá em casa, também meto a caixa de fósforos ao contrário; ou seja, ponho a parte aberta da caixa onde estão os fósforos do lado oposto à parte da frente daquela coisinha que tapa a caixa propriamente dita. Bem, esta porcaria é complicada de explicar por escrito. Por acaso, ficou exemplarmente decifrado. O objectivo é que os fósforos caiam todos no chão, quando a próxima pessoa for abrir a caixa. Infelizmente, sou sempre eu, que tenho muito pouca memória para estes pequenices da vida moderna, que abro os fósforos e me lixo, ficando com o dever moral de os apanhar. Safa-me o facto de, com deveres morais, ainda poder eu bem. E nem custa assim tanto convencer outra pessoa que foi ela que fechou a caixa de fósforos ao contrário e, em consequência, mas também quase sempre concomitância, levá-la a apanhar aquilo tudo. E tudo sem piar. "You just don't argue anymore."


* Ou: pretendo, o mais rápido possível, três assoalhadas na baixa ou em zonas relativamente limítrofes a preço que faça as pessoas a quem eu contar depois mugirem um “Eia, só? Em Lisboa? Espectacular!” de absoluto deslumbramento**


** Isto da casa é verdade


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