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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

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Duas Histórias de Violência

pedro, 17.03.06
















David Hasselhoff e Yanni. Nos tempos mais recentes, estes dois grandes vultos da cultura popular – OS grandes vultos, dirão mesmo alguns especialistas – foram notícia por terem sido confrontados, judicialmente e tudo, com acusações de violência doméstica sobre as respectivas companheiras. Bem, eu podia, qual jornalista armado aos cucos do lugar-comum, dizer antes que “foram notícia pelos piores motivos”, mas isso seria mentira, até porque todos sabemos que o pior que estas duas criaturas fizeram não foi bater em mulheres. Foi bater no mundo. Na humanidade. Na civilização. Nos valores que tudo sustentam. Foi agredir tudo e todos com as suas constantes aparições em tronco nu e os seus “Ao Vivo na Acrópole”, por exemplo e respectivamente. Com as suas camisolas vermelhas de gola alta ou as suas toilettes de camisa de cetim e calças de cabedal, ainda por exemplo, e ainda respectivamente.

Mas, voltando à novidade propriamente dita, parece que David, a atravessar um penoso processo de divórcio, e Yanni, acometido pela fúria relacionada com o facto de os bigodes, em termos de popularidade das pilosidades faciais, ainda serem o parente pobre e não se aproximarem da aceitação social das barbas, das suíças e das, também elas abomináveis, pêras, resolveram, quase sincronizados, espetar uns morteiros na esposa Pamela Bach e na namorada Silvia Barthes, mais uma vez respectivamente, mas, agora, não por exemplo. Para além disso, David ainda vive com o seu problema de alcoolismo, o qual, infelizmente para todos nós, não é um problema em aparecer seminu na TV. Pessoalmente, de bom grado deixaria de comer carne vermelha só para, no início dos anos 90, o problema de alcoolismo do David ter sido trocado por boa dose de fotofobia ou de agorafobia. Ou ébola.

Existirão, portanto, algumas atenuantes, mas o que fica é que David e Yanni, já cinquentões, representaram o cúmulo da ingratidão, porque, afinal de contas, aplicaram umas galhetas em duas mulheres que, por incrível que pareça, até terão aceitado dormir com eles. Se bem que a maior parte das vezes deve ter sido mais numa onde de “Está bem, xiça! Mas pára de cantar o dueto que fizeste com a Laura Branigan, caramba!”. Ou, no caso do Yanni, “Está bem, mas prometes que paras de enumerar coisas em que ganharias ao Vangelis e ao Demis Roussos!” Mas nem tudo é mau. Nem tudo é feio. Eles também já conseguiram coisas boas. Já fizeram coisas bonitas, como diria o Artur Jorge se ainda alguém o entrevistasse para alguma coisa. Por exemplo, em 1995, em mais um caso de “vida imita a ficção”, David Hasselhoff salvou uma criança que se estava a afogar. Claro que, depois da reanimação, cantou a canção das Marés Vivas com bastante sentimento, o que acabou por quase não compensar o regresso à vida por parte do catraio. Conseguiu ainda, a cantarolar, a admiração incondicional da Alemanha, país que, como se sabe, é dotado de um discernimento, bom senso e, há que dizê-lo, extremo bom gosto, sendo que, em qualquer discussão sobre esse tema, nomes como Hitler ou Modern Talking não nos deixam mentir. E, enquanto produtor das Marés Vivas, teve a simpatia de meter a Pamela Anderson a correr em câmara lenta debaixo de um fato de banho molhado. Vamos esquecer que também se pôs a si próprio, e a outros homens, a correr pelas praias, e, nesse sentido, embora não bata o Tommy Lee, merece o sincero agradecimento da humanidade por ter conseguido gravar a Pamela a fazer coisas tão estimulantes.

Quanto ao Yanni, a verdade é que pouco há a seu favor. Para além de ter provado universalmente que um consultor de imagem é mesmo um recurso humano necessário quando se está inserido no mundo artístico, pode-se, com muito boa vontade, destacar o facto do seu nome, que é grego, significar “João com cabelo dourado”. Isto é, quanto muito, Yanni consegue-nos provar que a língua grega é mais um daqueles idiomas em que uma mísera palavra pode significar coisas como “ontem fui à pesca com o meu tio da França e ele aconselhou-me antes as madeixas de prata” e que dão um jeitão no dia-a-dia. Além, claro, de ter servido de modelo preventivo para todos aqueles que, em determinado momento da suas vidas, pensaram que um bigode era aquilo que lhes faltava.

Seja como for, serão sempre argumentos menores em tribunal. O grande trunfo da defesa baseia-se na insanidade das acusadoras. Não se pode levar a sério o depoimento de duas mulheres que aceitaram partilhar leito e intimidades com Yanni e Hasselhoff. Em casos de violência doméstica, duas mulheres que já provaram ser capazes de cometer actos que ultrapassam a demência total, não devem conseguir grande coisa. E, afinal, perguntará sempre a humanidade, chorosa, a Pamela Bach e Silvia Barthes, o que são umas lamparinas ocasionais, para impor o necessário respeito e adoração temente, comparado com aquilo que o mundo tem suportado dos vossos consortes?

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