O mais bad mother fucker (II)
Carlos Ray Norris, só por si, é um nome que dificilmente fará tremer algum vilão, mas, se no lugar das primeiras duas palavras que compõem o título identificador, colocarmos “Chuck”, o caso muda completamente de figura. Pois bem, Carlos Ray “Chuck” Norris inicou a sua carreira cinematográfica em 1969 com o filme “Arma Secreta contra Matt Helm” (The Wrecking Crew), filme em que faz de empregado de mesa e serve uma bebida a Dean Martin. Com um início tão prometedor, estava mais que visto que o, à altura, quase trintão iria marcar uma era no que diz respeito à porrada desenfreada e sem sentido que, afinal de contas, é aquilo que, a par de gajas boas, queremos ver no cinema e na televisão.
Mas vamos a factos concretos. Chuck protagonizou a trilogia “Desaparecido em Combate” (Missing in Action), onde, basicamente, interpretava o papel de um coronel (James Braddock) cuja missão consistia no resgate de uns quantos prisioneiros de guerra que ainda estavam enclausurados numas quaisquer barracas no Vietname. É giro constatar que a trilogia começa com um sonho do coronel em que este dizima uma carrada de vietcongs todos iguais e salva alguns dos seus antigos companheiros de luta (todos com uma família nuclear perfeita e filhas louras muito giras e bem comportadas). Ou seja, o Chuck Norris até a dormir, a sonhar, é um gajo lixado.

Há uma outra cena em que o coronel está a fugir num barco a motor enquanto três maus lançam incontáveis rajadas de Kalashnikovs AK-47, que, vá-se lá saber, não parecem ter efeito no veículo de escapatória aquática. Um dos maus, mais astuto e despachado, ao ver que a continuarem assim o Chuck se iria escapulir e finalmente instaurar a paz e o amor no mundo, decide pegar na bazooka e consegue acertar em cheio na embarcação foragida. Tal como na cena do rato, os vietcongs riem-se e trocam piadas (povo animado, estes vietnamitas). Mas, da mesma forma que Fénix renasceu das cinzas, Chuck renasce dos destroços de um barco a motor e ergue-se majestosamente da água com a sua M60 (uma arma que, na altura, me parecia mais pesada que um carro) e, com uma só rajada, acaba com o trio das piadinhas em vietnamita (ou vietnamês, seja o que for). Conclusão: Chuck enerva-se particularmente com piadas que não percebe.

Se a isto juntarmos o facto de Chuck Norris protagonizar, cantar a música do genérico, produzir e, hosana nas alturas, até escrever um ou outro episódio da série “Walker, o Ranger do Texas”, temos que reconhecer estarmos perante um autêntico Buda na arte que tão bem caracteriza os duros do cinema. Já agora, e para terminar, só dois apontamentos acerca desta sumptuosa manifestação televisiva de dureza do Chuck: Em todos os episódios o Walker e o seu companheiro de sempre tinham que aviar a clientela inteira de um bar (armada de tacos de snooker, claro) que não achava piada ao facto de dois Rangers do Texas terem decidido fazer perguntas sobre um qualquer possível vilão; e o Walker, apesar das calças de ganga bastante apertadas conseguia facilmente dar pontapés à altura da cabeça dos maus, sem, graças a Deus, a zona de tecido que envolve o escroto alguma vez ter cedido e revelado algo aterrador.
P.S: Irmão desaparecido do Chuck Norris em exposição n' O Gémeo Malvado. Passai Bem!