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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

O mais bad mother fucker (III)

pedro, 10.04.05













Medalha de Ouro

O debate em torno de quem será afinal o gajo mais lixado de toda a história do cinema pode dar muitas voltas e assumir as formas mais variadas mas, em minha opinião, vai dar sempre no mesmo nome: Charles “big mother fucker fucking” Bronson! A escolha acaba por ser óbvia, porque, tendo eu sido uma criança nos anos 80, só podia ser este filho de imigrantes lituanos a ganhar tão importante título.

Mas vamos a factos. Num dos seus primeiros grandes papéis, Charlie, ao interpretar um gajo lixado de nome "Machine Gun Kelly" (qualquer coisa como ‘Carla Metralhadora’), deixa logo antever a sua verdadeira vocação de piaçaba mortífero, mas é n”Os Sete Magníficos” que o público começa a reparar no pistoleiro de bigode que, junto com mais seis marmanjos, dão início a uma dinâmica que os Soldados da Fortuna mais tarde celebrizariam. Basicamente, defender os oprimidos dos opressores, mas, em vez de uma carrinha preta com um ar porreiro, usaram-se cavalos salivantes. Depois, em “A Grande Fuga” (The Great Escape), Charlie encarna o papel de um prisioneiro de guerra encarcerado pelos alemães nazis numa espécie de campo prisional para soldados inimigos com competências acima da média. O nome da sua personagem, Danny “O Túnel” Velisnky, pode levar a pensar que os méritos de Bronson neste filme (até porque, não esqueçamos, estava-se em contexto prisional) podem passar por movimentações nessa área tão obscura que é a sodomia em massa. Mas não. Charles era mesmo um especialista em escavar túneis normais, colocando assim em prática as experiências adquiridas nas minhas de carvão durante a sua vida civil (sabem, é que ele foi mineiro antes de ser actor e sabe o que custa a vida). Em “Era uma vez no Oeste”, e regressando aos cavalos, Bronson volta a ter um azar do caraças com o nome que o filme lhe concede: ‘Harmónica’. Apesar disso, e embora toque o instrumento seu homónimo mais vezes do que seria de esperar de um gajo lixado, Charles limpa o sebo a uns poucos de cowboys, entre eles, e num duelo mítico em que está a levar com o sol nas trombas, o Henry Fonda.

Um currículo simpático até aqui, sem duvida, mas convenhamos que nada de transcendente. Ora, é em 1974, já na ternura de pré-senilidade dos cinquenta, que Charles assina o papel que o tornaria no gajo mais fodido de sempre e pelo qual verá o seu nome ecoar eternamente nos anais da história da violência gratuita: o do vigilante Paul Kersey em “Deathwish”. Basicamente, Kersey é um ordeiro arquitecto, crente nas ideologias de esquerda, que vê, de uma assentada, a mulher ser violada e morta, enquanto a filha é violada e internada numa hospital psiquiátrico. Os culpados? Um gang sem escrúpulos liderados pelo futuro ‘Mosca’, Jeff Goldblum. A partir de aqui acabou a pacatez do arquitecto neo-marxista. Cada vez mais próximo dos ideais de direita, Kearson inicia uma autêntica batalha pessoal contra o crime, vagueando pelas noites e descarregando o tambor da sua Magnum (talvez não fosse esta, mas era uma pistola do caraças) em todos os delinquentes e semelhantes. O processo de matança vai-se desenrolando com uma fluidez notável e, com meia hora de filme, já perdemos a conta ao número de mitras que o Charlie mandou ir fazer tijolo. O filme teve mais quatro episódios, e, no último, Bronson, com 73 anos, mostrou como devemos ter respeito pela terceira idade (não vá ela sacar de uma pistola), sendo que, basicamente, são estes filmes, todos iguais, que conseguem elevar Charles à categoria de supra-sumo da dureza implacável. É que nos ‘Deathwish’, o que mudava era a mulher/filha/colega de carteira/parceiro de sueca/amigo por correspondência do Kersey que era selvaticamente assassinado e/ou abusado sexualmente, porque de resto era só aviar.

Bem, de todas as matanças a que tive oportunidade de assistir, destaco a execução de um mau que violava jovens num dos cinco “Deathwish” (ninguém os distingue). Depois de aniquilar, a sangue frio e sem pestanejar, uma dúzia de amigos do mau, Charles consegue, finalmente, dar de caras com o vilão em pleno acto de pré-violação. O mau, que estava todo nu, desata a correr dali para fora e, depois de garantir a segurança da jovem que estava prestes a se ver privada da sua inocência, Charles (Kersey) persegue-o fogosamente. Alguns minutos de correria depois, o gajo nu, que ia equipado com um facalhão de cozinha (daqueles que dão para cortar solas de sapatos e latas de tinta), é finalmente alcançado e, após ter sido derrubado por Kersey, vira-se para o nosso protagonista, fitando-o de forma desprezante. O olhar é retribuído e, sem titubear por um segundo que fosse, Kearsey enfia-lhe um balázio na testa. Eloquente, sem dúvida.

Já agora, quero, e por últ imo, destacar a versão de jogo de computador desta majestosa obra de arte do cinema. Era para Spectrum e eu não me fartava de jogar. O objectivo era, como nos filmes, exterminar todos os maus (no jogo eram punks) e evitar que o nosso poder de fogo atingisse os médicos (que curavam as vítimas dos malfeitores) e as prostitutas (nunca soube porque é que todos os jogos dos anos 80 tinham mulheres da vida). O aspecto mais fascinante deste jogo é que permitia, à jovem criança que dele usufruía, cravar metal nos facínoras até que findassem as munições, o que, basicamente, permitia aos catraios a visão de um mau literalmente a dançar (assemelhava-se mais a movimentos do género ‘ataque epiléptico, mas sempre em pé’) ao som da bala durante largos segundos. Esta característica do jogo acabava por ser bastante útil na medição dos instintos assassinos dos pirralhos. E saber que éramos um Charles Bronson em potência dava-nos a motivação extra para as bulhas no recreio.