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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Porque é assim

pedro, 29.01.06
















Porque desde que, no Karate Kid, o Daniel LaRusso inventou aquele golpe final e aviou um biqueiro na queixada do Johnny Lawrence, pancada extensível, ainda que a um nível simbólico, a todos os membros da Cobra Kay, mas sobretudo ao seu pérfido sensei, que eu soube que, no final, os bons ganham sempre.

Porque desde que, no Rocky I, o Apollo Creed, esse canalha, vence a primeira batalha, com sorte e após uma decisão arbitral bastante discutível, que eu soube que, mais dia, menos dia, há-de sempre aparecer um Rocky II para, de uma vez por todas, e inquestionavelmente, o bem, com menor ou maior dificuldade, imperar sobre o mal.

Mas, acima de tudo, porque desde que, no Cálice Sagrado, o Rei Artur encontrou o Cavaleiro Negro, personagem com sobranceria, arrogância e desdenho pelos adversários para dar e vender, que eu soube que, às vezes, os trajectos da vitória do bem sobre o mal assumem contornos demasiado claros e absurdamente humilhantes.

E ainda bem que assim foi.

Quo "andis", PSN?

pedro, 23.01.06










No rescaldo de outras eleições, mais que manifestar tristezas ou alegrias desmesuradas (como se a política fosse futebol, por Deus!, e tivesse alguma influência na vida de alguém) por quem, respectivamente, perdeu e ganhou, importa relembrar quem já não nos acompanhou neste escrutínio. Nas Legislativas de 2002, a grande notícia, a milhas de distância da eleição de Durão Barroso e respectiva armada insensível, foi o resultado eleitoral de um pequeno partido que respondia pelo nome de “Partido da Solidariedade Nacional”. O PSN foi, tal como os Ace of Base, criado no início da década de 90, e, apercebendo-se da oportunidade de ouro que o progressivo envelhecimento do país representa, centrou toda a sua retórica em apelos ao pessoal das reformas. Apelar aos aposentados, ao pessoal do “como é que eu vivo com 200 euros de pensão?”, é um risco. Apesar do universo massivo, é pessoal que já ouve cantigas de muitos outros partidos. Além disso, é pessoal para se esquecer em quem quer votar e a quem, muitas vezes, nem a pequena cábula escrita na mão esclarece por aí além.

Ainda assim, o PSN lá estava, em 2002, nas urnas. “Na eterna luta política”, diria um ofegante Manuel Alegre, com aquele tom de voz de declamação incessante e forte sentimento. Como quando foi para ler aquele poema do Figo, que tantos votos lhe custou ontem. E o PSN, à altura, apresentava-se na frente de batalha com sete nomes, cinco candidatos efectivos e dois estóicos suplentes. E, levando o conceito de representatividade para níveis nunca antes imaginados numa democracia a sério, o partido alcança sete votos. Sete é exactamente o resultado da soma de cinco com dois. De, sei lá, assim de repente, cinco efectivos e dois suplentes.

Já é chato quando, numa eleição para Associação de Estudantes ou para o delegado de turma, se percebe que fomos os únicos a votar em nós próprios. E, palavra de honra, não me lembro, nem nunca me contaram, que tal alguma tenha vez acontecido. Também por isso, urge inventar um conceito que classifique na perfeição a situação daqueles sete indivíduos, incapazes de agregar a simpatia da família ou dos amigos junto do seu PSN, ou, por outro lado, perseguidos pelo azar de nem uma pobre alma se ter enganado a seu favor. Ontem, enquanto apanhava uns bocados do discurso do Cavaco, estava rodeado de indivíduos que, perante a quantidade de primeiras pessoas do plural que o autómato natural de Boliqueime entoou, lá iam dizendo “Nós o caralho! Presidente és tu! Desenmerda-te!”. Quase indiferente à extraordinária interactividade que o discurso cavaquista ia granjeando, a verdade é que, enquanto pensava em angustiantes formas de torturar o gajo que inventou o slogan “Soares é fixe!”, lembrei-me foi deles.

Deles, do PSN. Melhor, mais que da entidade PSN, foi deles, dos sete candidatos que valeram sete votos. Que é feito deles? Do Josué Pedro, da Teresa Rocha, do Fernando Pinto, do Miguel Rodrigues e da Rosária Ventura, mas também dos suplentes, o Carlos Pedro e o João Pedro?

Fuja, ou morra a tentar - O Fogo

pedro, 09.01.06

Aqui há uns tempos, falou-se aqui num site da defesa norte-americana que, entre outras preciosidades, pretende auxiliar os seus histéricos cidadãos na luta incessante que aqueles pobres diabos travam diariamente contra todos os que abominam os seus ideais de liberdade e democracia. Além dos ataques terroristas anteriormente mencionados, o biológico e o químico, a defesa nacional norte-americana prevê outras formas de destruição, destacando-se, para já, a milenar estragação através do fogo. Pôr tudo a arder, portanto. Então e isso de fugir a um fogo? Como em tudo na vida, é só olhar para os bonecos.








- Se começar tudo a arder, saia de onde quer que esteja. Pode não parecer – até porque começa a ficar quentinho –, mas ficar num sítio a arder é uma idiotice. Felizmente, a seta, apresentada no capítulo anterior, sabe disso e vai encaminhá-lo por uma porta que vai dar a Espanha. E sim, ignore a treta do “mulheres e crianças primeiro” porque isso há muito tempo que já lá vai e agora só se usa nos filmes e em livros antigos.









2 º - Se, lá fora, estiver nublado, ande de cócoras. Não perca tempo a perceber se é você que está gigante ou as nuvens que estão estupidamente baixas, ponha-se mas é a mexer. Para não estranharem o seu comportamento anormal, e de forma a que não se instale o pânico e vá alguém correr e safar-se mais depressa que você, finja que está à procura das suas lentes de contacto.









- Com o olhar de quem acabou de ser possuído por um demónio, vista o seu fato de ninja e chore copiosamente ao relembrar a sua infância perdida e absolutamente psicótica. Além de poupar em terapia, convém realçar que a parte do fato de ninja que lhe cobre as fuças ficará ensopada, facto que será decisivo para evitar uma desfiguração. Assim, ainda poderá engatar gajas, mas, com queimaduras em muitas outras zonas, esqueça a hipótese de as levar para a cama. Seja como for, diga na mesma aos seus amigos que as levou para a cama e que “as porcas fazem tudo”.









- É comum, em incêndios, a ocorrência de combates entre as mais variadas forças, das mais obscuras dimensões e galáxias. Por isso, se tiver um bocadinho, veja o excitante combate entre a tríade das setas e mão radioactiva gigante. Faça apostas absurdas com os presentes e ponha-se a andar dali para fora se perder. Se, um dia mais tarde, encontrar uma dessas pessoas a quem deve dinheiro, diga-lhe que deve estar a fazer confusão com o seu irmão gémeo, que, precisamente, faleceu nesse incêndio. Chore de raiva e processe o sacana que ainda teve a lata de lhe vir exigir o dinheiro, relembrando-o de tragédias e lançando numa depressão profunda e irreversível. Aliás, reversível com uma indemnização, claro.









- Aproveite para ouvir os vizinhos a fazer sexo. A pervertida da seta deve acompanhá-lo em tão nobre acto. A seta é facilmente excitável, mas, por amor de Deus, não retribua os seus olhares lascivos. Como deve calcular, até pela sua acentuada forma fálica, não deverá ser uma posição passiva que a mesma adoptará num possível acto sexual consigo.









- No caso dos seus vizinhos serem maricas, o apartamento deles será dos primeiros a arder por completo. É o que dá ir contra os dogmas da igreja. Depois falta sorte nestas desgraças. Bem, quanto a si, mesmo que tenha uma qualquer tara inexplicável que envolve a audição de sexo homossexual durante incêndios, nem pense em aproximar-se da porta. Andor!









- Convém ter sempre bem presente que você, para “eles”, não passa de um ponto preto a quem é dada uma, e apenas uma, opção. No caso, seguir em frente. Faça qualquer outra coisa e, se o fogo não o consumir entretanto, um sniper contratado por “eles” rebenta com a sua cabeça. Por isso, siga mas é lá em frente e, já agora, nem pense em usar o elevador. Não é que seja particularmente perigoso usá-los durante incêndios, mas se há escadas, você não vai querer obrigar o patronato a pagar mais luz, pois não? Também me parece. Os elevadores são para pessoas de fato e malas pretas com documentos importantes. Você vai pelas escadas.









- Se, por acaso, começar a arder, não se ponha a correr armado em parvo. Deixa-se estar e tenha uma morte angustiante. De preferência, não grite. Todos temos problemas, camarada. Aguente! E lembre-se que, apesar da imagem de alguém a correr enquanto é consumido pelas chamas ser, esteticamente, estimulante, ninguém quer saber disso agora. Para além disso, se correr, vai estar a espalhar as labaredas por tudo quanto é sítio. Vá, não seja inconveniente.









- Como já deve ter percebido, a seta estará presente durante grande parte do processo. Quando tiver oportunidade, aprecie-lhe a traseira, salivando se possível. Depois, ponha-se de cócoras e mique o seu próprio cu, imaginando-se a ser comido à canzana por quem quer que seja que o excite. Sim, se for apologista do imediatismo, até pode ser a seta. Finalmente, jogue às escondidas com a seta, mas faça a contagem deitado, fazendo “cadeirinha” com duas setas mais flexíveis que, entretanto, surgiram do nada.









10º - O fumo e caos vão ser de tal ordem que, de repente, você vai-se ver transportado para outra dimensão. Neste universo paralelo, você é um gigante que gravita num ciberespaço cuja paisagem se resume a um Google Earth, mas em pior. Eventualmente, a seta, sempre prestável, chamar-lhe-á a atenção para o sítio onde fica a sua casa. E, antes que se ponha com ideias, não, o zoom não dá para ver decotes das transeuntes ao pormenor.









11º - Construa uma família sem qualquer tipo de expressão facial. É um mundo cão, onde não vale a pena manifestar emoções. Ignore o facto de andar sempre com a mesma roupa e, pelo menos para a fotografia, deixe de apalpar o rabo à sua mulher, colocando-lhe a mão no ombro. Tirada a foto, dê uma lamparina ao seu filho porque corsários não são roupa de gente. Melhor, dê uso a esse cinto que lhe manteve as calças bem acima do umbigo durante toda esta escapadela ao fogo, e dê-lhe antes uma sova das antigas. Com fivela e tudo.










12º - As casas bonitas e caras não ardem. Isso é só em bairros de lata e barracas, habitadas por pessoas que gostam pouco de trabalhar. Por isso, compre uma casa cara que deve ficar safo dos fogos.









13º - Crie logótipos absolutamente medonhos para os bombeiros lá da sua terra. Encha a caixa de e-mail lá dos senhores com os referidos logótipos e mantenha constantemente a linha ocupada, perguntando “então, o que acharam dos meus logótipos aí para a vossa organização?”. Se fez tudo correcto, parabéns, você acaba de sobreviver a um incêndio.