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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Hum

pedro, 25.09.07


Marcel Marceau, o mais famoso mimo do mundo, faleceu aos oitenta e quatro anos, algures um destes dias, parece-me que recente, mas pode muito já ter sido há uma série de semanas. Ser o mimo mais famoso do mundo tem o mesmo valor, metafórico, semântico, efectivo, simbólico, que ser o cancro mais famoso do mundo. Não é motivo de grande orgulho, dirão muitos, confirmo eu, com uma pequena rubrica no final do documento. Por acaso, havia de tornar a minha assinatura mais adulta. Tenho a mesma desde o sexto ano, ou um desses em que se tem inglês. E depois mandar fazer um carimbo com a minha assinatura. Mas depois se calhar tinha que andar com aquelas caixinhas com tapetes pequeninos, encharcados em tinta, para o carimbo poder ser usado em qualquer altura. Onde é que eu ia meter isso tudo? Havia de comprar uma pasta também. Mas uma pasta só para ter isso também soa um bocadinho a desespero. Bem, enfio para lá umas fotocópias e uns jornais também. Só naquela. O que não quero é viver num mundo em que os mimos vivam mais de oito décadas e as mamas comecem a descair ainda antes das donas chegarem aos trinta. Sim, é a minha nota de suicídio. Era isto ou um poema. Mas aquilo de ter que rimar desanima qualquer um. 

Sim, é verdade que os Los Lobos até cantam a La Bamba, mas o original é do Ritchie Valens

pedro, 21.09.07


Na medida em que inclusive até visualizei um considerável trecho disso do râguebi, sou agora dono e senhor de um parecer relativamente a tão actual temática. Todos os desportos possuem algo no seu imo que me chateia ou, recorrendo a carga menos negativista, me faz coisar os nervos ao ponto de se verificarem incidências médicas. O râguebi não foge a essa regra, que ela corre depressa e passa rasteiras, a sacana. Quando digo todos, é todos mesmo. Não há cá meios-termos, só falo em termos absolutos e sempre acompanhando o discurso com murros na mesa. Logo, até o futebol tem coisas que me dão vontade de pontapear hemofílicos. Evidentemente, nos sítios onde doa mais aos hemofílicos, porque estou a tentar marcar uma posição de força. Não ando aqui a brincar aos pontapés em hemofílicos. No futebol, e só para ilustrar o paleio com um exemplo, esconjuro francamente aquela mania – arbitral, claro está – de, tentando criar um momento prenhe de carga poética, os indivíduos acabarem a bardamerda do jogo com a bola no ar, quase sempre, mas quase, quase, quase, mesmo quase, quase, quase sempre, vinda do guarda-redes. Árbitros, sobretudo vocês os dois, Olegário e Lucílio, façam-me o filha da madalena do favor de, se é para acabar o jogo, acabá-lo quando o guarda-redes tem a bola nas mãos. Vocês já me dão tanto, mas tanto asco, que não precisam de mais isto. A sério. Não me dêem esperança que ainda dá para marcar um golo, seus sádicos da poia. Em termos estéticos, até consigo, num dia em que esteja particularmente fraldiqueiro, admitir que aquilo dota o final de todo um outro quilate. Não obstante, madalena c’us desovou mais a mania das cargas poéticas. Vão brincar ao Camões lá no vasilhame da madalena da genetriz deles, ou o caraças, e não m’encham a cabeça de esperanças vãs. No futebol, chateia-me isto. E etc. Agora, para não parecer que sou uma daquelas pessoas que diz etc. porque já não sabe que mais acrescentar, vou dar mais dois exemplos de coisas. Yannick e Djaló. Com os outros desportos, mantém-se esta constância, e, nessa óptica, eu podia ficar aqui diversas linhas a apontar estorvos e aversões. No hóquei em patins – regra básica relativamente a tudo, mormente desportos: todas as modalidades que precisem de nome composto são, em rigor, mais ou menos semi-intrinsecamente-parvas –, não se vê a bola e é quase impossível marcar um golo de penalty. Um jogo que se baseia neste último pressuposto tem, logo à cabeça, um grave problema de prioridades e, como tal, deve ser extinto nuclearmente. Este último advérbio refere-se, como será de todo compreensível, à extinção por recurso a arma nuclear e não ao núcleo do desporto per se. A cena do rugby traz-me à memória um clássico dos desafios mentais de ampla camelice que consiste na mera troca de vocábulos na oração levando a que, semântica e outras coisas mente, dê que pensar e nos empurre para a introspecção, esse pardieiro de desilusões. Indo mais directo ao assunto, que isto também não é nenhum livro: o que é preferível, ser o mais burro dos inteligentes ou o mais inteligentes dos burros? Ora, e se ainda está confuso, tenho a dizer que Portugal é a melhor equipa amadora do mundo, facto que, inevitavelmente, e acompanhado da passagem para um patamar mais profissionalizado da coisa, a tornaria numa das piores equipas profissionais do universo. A meu ver, e, logo, a todos os veres de relevo, ficamos superiormente servidos com o título de melhor equipa amadora do mundo, sendo que, por conseguinte, o passo para o profissionalismo deve ser arredado e sovado ferozmente num beco, escuro ou não. Porque, afinal, o que fica, do desafio “o que é preferível, ser o mais burro dos inteligentes ou o mais inteligentes dos burros?” é o facto de, num dos casos, se ser o pior aluno da turma e, no outro, o melhor. O resto são ocorrências de somenos importância. Se pudemos ser os melhores do mundo, deixemo-nos estar e não vamos já pedir transferência para a turma dos inteligentes, a pensar que é chegar lá e partir a louça toda. Que não é. Todavia, e apesar disso, o râguebi devia, logo à partida, ser considerado peva em termos de desporto mundial. Não há espaço para um desporto em que a Nova Zelândia é a grande potência. É o mesmo problema do críquete, com a Índia. A Índia tem direito a ser uma grande potência naquilo que faz sentido que seja, doenças e indianos, e tudo o mais que ultrapasse esse infectado âmbito deve ser alvo de extermínio. Além de que, não fosse já isto matéria suficiente para encorpada sanha, chateia-me ainda um desporto em que eu saia para ir à cozinha fazer um pão e está zero a zero, e regresse nem passados cento e oitenta segundos, que eu ainda demoro a cortar queijo, para já estar quinze a zero para a Escócia. E aproveito para orquestrar um triunfal regresso à questão do amadorismo da selecção portuguesa. O râguebi até nisso enfada, que, aos amadores, só lhes parece estar destinado o papel de levarem mais de cem pontos contra uma Nova Zelândia em ritmo de passeio pós-operatório. No futebol, se o Sporting vai jogar contra uns nórdicos, levamos golos de gajos que, durante a semana toda, são carteiros e funcionários dos correios. Se os amadores nórdicos às vezes aviam o Sporting, e quase sempre o Benfica, e dão, em geral, chatices, será pedir muito aos Lourenços, Salvadores e Gonçalos do râguebi português que façam o mesmo contra as Novas Zelândias e Escócias? O que eu queria dizer, quando comecei isto, e entretanto perdi-me, é que não é por cantarem o hino aos gritos e a chorar que não devem ser recebidos em conformidade pelas derrotas que devem chegar perto dum point-average acumulado de trinta e cinco - trezentos e cinquenta. Pouco m’importa se são amadores, que exige-se coerência aos adeptos portugueses e, portanto, é preparar já uma recepção semelhante à que a selecção de futebol conseguiu algures em sete de dois mil e dois. Nem é por mim, é em nome da harmonia e do bom-senso. Se bem que gosto é de peixeirada em aeroportos. E, regra assim abrangente, em sítios.

Pronto.

pedro, 17.09.07


Nunca soube a minha palavra-passe para isto. Um tal de Dr. Mozilla Firefox tinha-ma guardado. Interpelou-me, que eu bem me lembro, naquela onda do “desejas”, aliás, “deseja” – que o Dr. Mozilla prima pela excelência no trato – “que Firefox guardasse esta senha?”. Sim, se não for muito incómodo, até desejo, que é da maneira que m’esqueço já dela. Uma cabeça que consegue aplicar uma acutilante, explosiva, irrepreensível, e cerca de outros quarenta e três adjectivos (inclusivamente, um galicismo e outro anglicismo), mistura de dialéctica marxista-leninista-maoista com as razões pelas quais eu teria lugar no meio campo do Brasil ’82 nos jogos da 1ª fase – e esta aplicação, pormenor digno de ressalva, pode-se registar sob diversos idiomas, garantidamente, acima de um, quiçá até mais, mas também é possível que não, que seja só mesmo isso; até posso saber isso, mas se calhar agora ia continuar a frase, que eu nem faço parágrafos e depois vai-se a ver e até se torna maçudo –, ora, aplicação essa que é justaposta a tudo o que vê à frente, essa mente não pode, e não deve nunca, andar a ser atulhada com senhas e demais picuinhices que a vida automatizada nos vai impondo. E assim foi. Ainda nem tinha carregado no “sim, desejo” e já se me tinha evaporado a palavra-passe da cabeça. Durante uns tempos, correu tudo bem. Sempre que queria usar isto, o Dr. Mozilla nem me pedia nada, deixava-me entrar, qual Copa C ou D [atenção: não numa estrutura que pese acima dos sessenta quilogramas, que assim também eu, ó chefe] na Kapital. Até que um dia, do nada, o Dr. Mozilla começou-me a pedir uma senha. Um código para poder entrar. De um dia para o outro, deixei de ser umas mamas a quem só a terceira ou quarta letra do alfabeto, em termos de copa, permitia algum conforto e aconchego, para passar a ser um gajo de pantufas e roupão que queria entrar na Kapital num sábado à noite. Isto lá acabou por se resolver. E eu entrei. Inclusive, estou cá dentro agora. Não é a mesma coisa. Não me sinto umas mamas grandes, daquelas que fazem tanta miúda de dezasseis anos ter os amigos do pai a ver os seus jogos de vólei ou outro desporto qualquer em que haja saltos constantes ou com frequência de registo. Agora que penso nisso, não há um desporto que tenha visto desenvolvida a sua versão feminina, precisamente para destacar as mamas dos demais encantos. Como, por exemplo, há o ténis para destacar, primeiro, os gemidos, e, bem depois, lá mais ao fundo, as pernas. Muito se geme num jogo de ténis. Talvez uma espécie de salto à corda em câmara lenta fosse a actividade por excelência, a actividade que levaria uma fufa corporativista a, revoltadíssima, dizer que “o salto à corda em câmara lenta não é uma actividade desportiva, mas, tão-somente, um salvatério para os homens verem a movimentação sincronizada e constante de profusos seios a quem a gravidade parece nada dizer, mantendo assim a tendência milenar da exploração feminina”. A única pessoa que vi usar a palavra salvatério foi precisamente uma fufa corporativista. Foi numa RGA, no ano de dois mil e três, ou outro qualquer desses que são ímpar e que não há mundial nem europeu. Uma fufa corporativista, e isto para aquelas pessoas a quem dá sempre mais jeito uma imagem mental, é assim uma espécie de Zita Seabra, de camisa de ganga e calças de bombazina creme. Ou sarja. Mas, se for sarja, a cor já andaria mais ali pelos campos do amarelado. Ou do pus. Já pedi esta cor numa loja. “Olhe, tem isto, mas assim mais em tons de pus?”. “Pus? Como assim, pus?”. “Pus, ‘tá a ver? Vurmo, essas coisas assim. Não tem?”. Não tinha, mas que se lixe. Era para uma aposta, que o pus nem é a minha cor. Por isso, se calhar, reformulava a frase ali de cima, que, com isto tudo, acabou por perder actualidade e um tudo-nada de acutilância. Não me sinto umas mamas grandes, daquelas que fazem tanta miúda de dezasseis anos ter os amigos do pai a ver os seus saraus de salto à corda em câmara lenta ou outro desporto qualquer em que haja saltos constantes ou com frequência de registo. Sim, saraus. Em vez disso, sinto-me um daqueles gajos que andou na escola com o sobrinho do dono e foi fazer queixinhas do segurança que não o deixou entrar. Ao fim e ao cabo, o Dr. Mozilla já não me olha da mesma maneira quando entro aqui. Que se lixe isso, que eu até tenho enfrentado fastios de índole bem mais contingente. Nomeada e mormente, perceber finalmente qual a percentagem máxima de batatas fritas que posso eu tirar do prato de alguém que se ausentou por momentos sem que essa pessoa s’aperceba que lhe faltam alguns exemplares deste espirituoso tubérculo. Se calhar depende da pessoa. Rai’s parta o subjectivismo inerente à individualidade. As pessoas, quero dizer.