Corrença e pirexia
Ou, e que já se fala em coisas com péssimo timing, é sempre imperiosa a referência à corriqueira situação em que, estando nós postados na fila para pagar um serviço, alguém, que não olhou para nós durante todo aquele tempo de espera, se vira na nossa direcção no exacto momento em que estamos a palitar os dentes com a ponta do envelope onde temos a factura da TV Cabo. Porque, caraças, há bocados de bacalhau que não podem esperar por um palito! São muito incomodativos. Pior! Há bocados de bacalhau que parece que se camuflam quando há um palito e depois aparecem quando o acesso a palitos já está comprometido. São aqueles bocados de bacalhau que, uma vez retirados, nos fazem sentir uma espécie de renascimento. Parece que tomámos um daqueles banhos que correram mesmo bem. Daqueles em que não ficamos com espuma nos ouvidos e na cabeça. Mas, enfim, essa pessoa, a que nos apanha a palitar os dentes com o envelope da factura da TV Cabo, também olha para nós sempre na pior altura. É, nesse sentido, bastante como a diarreia.
Mas o que mais me impressionou neste anúncio foi uma outra particularidade. Parece que quando se avizinha o inoportuno ataque de diarreia basta, ao afectado, a ingestão de um comprimido. Algo está mal. Aqui há não muitos anos, para se medir a febre, havia quem recorresse a uma maravilha denominada – e poucos nomes são tão directos como este – termómetro rectal. Que eu saiba, a febre é na cabeça. Na testa, mais exactamente. Porque era lá que a minha mãe punha a mão para saber se eu estava febril. Se é na cabeça, porque é que raio existe um termómetro tão exclusivo? Não fazia sentido. Não faz. Quão perversa tem que ser uma ciência para estabelecer as relações diarreia/comprimido e febre/termómetro no cu? Muito, no mínimo. Uma ciência normal e altruísta desenvolveria produtos aplicáveis no cóccix apenas e só quando a área atingida fosse essa. Ou, vá lá, nos seus arrabaldes. Mas não. Parece que andam a gozar com as pessoas. Eu até confrontava o meu médico de família com tamanha contradição. Só que tenho medo que ele embezerre, murmure qualquer coisa, e, para tratar aftas, me receite meia dúzia de embalagens de supositórios. Já lá diz o adágio popular, “a doença é o celeiro do médico”.
Não sei o que isto quer dizer, mas queria acabar com um provérbio.