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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Quatrocentos e noventa

pedro, 25.07.07


Não reverencio mesmo nada o acto, involuntário, sim, mas nem por isso menos factual e ordinário, de pisar humidades quando estou de meias. É incomparavelmente pior que pisar descalço, que uma vez calquei iogurte líquido quando estava de meias e fiquei com aquela sensação durante meses. Sempre que andava de meias, tinha aquela sensação de ter a meia ensopada de iogurte líquido. A meia direita. Acho que nunca pisei nada com o pé esquerdo, o que não deixa de ser curioso. Ter noção destas coisas é mais importante do que possa parecer à partida. Nunca se sabe o que raio nos vai perguntar um médico. Uma vez, um desses doutores que partilham a farda com padeiros e talhantes e mesmo assim têm a mania, perguntou-me se eu metia manteiga no pão da esquerda para direita ou vice-versa. E já me perguntaram se eu costumava comer produtos ricos em tiosulfato de sódio pela manhã. Disse que sim, que tinha dias em que não me chegavam as torradas e a geleia à colherada, mas só para o gajo não ficar a achar que, lá porque tem um curso de receitar Nimeds e Aspegics, me deixa sem resposta no que quer que seja. Não me vão apanhar incauto quando a pergunta “com que pé é que costuma pisar humidades ou coisas em geral” vier à baila – e, não se duvide, virá, virá que eu bem sei que virá –, que eu respondo-lhe logo, sem pestanejar. Não tenho medo de médicos, muito menos das suas perguntas idiotas que visam, única e cheira-me que também exclusivamente, fazer cair o paciente numa espiral de ignorância em relação às suas próprias rotinas. Medo, medo, só tenho de um tipo de gente. Absolutamente curioso, ou curiosamente absoluto se se mais-quiser, esse medo só se repercute no temeroso acto de dar sempre prioridade a essas pessoas. Refiro-me, já se terá enxergado por esta altura, às pessoas cujo veículo automóvel apresenta um plástico em vez do pára-brisas. É deixá-los passar à frente, não apitar, não barafustar, permitir que venham para a nossa fila quando a deles pára e todos os diversos et ceteras que tornam a vida rodoviária numa pitoresco rendez-vous de parvalhões e bestas. As pessoas que têm plásticos em vez de vidros do carro, e vou recorrer aqui a um estereótipo que, como todos os demais, é verdadeiro, é canalha com uma saudável tendência para encontrar confusão no mais insignificante pormenor. Ontem matei uma barata. Por sistema ou mesmo recreação, não mato insectos, mas há algo de mágico em matar com um chinelo uma criatura que sobreviria a uma explosão nuclear. De certa maneira, o meu chinelo prova ser mais poderoso que uma bomba nuclear. Como seria dar uma chinelada em Hiroshima e Nagasaki? Quão diferente seria o mundo? Se calhar as pessoas iam pensar que os japoneses estavam a exagerar um bocadinho, que umas chineladas nunca fizeram mal a ninguém. Menos àqueles miúdos que morrem com sovas de chinelo. Normalmente é mais com cintos e ferros, mas já deve ter acontecido com chinelos. Daqueles de praia, em plástico duro. Não daqueles de usar mais por casa, com pêlo e uma sola toda maleável. Já que é de holocaustos que se trata, registe-se que na segunda-feira, ou um desses dias assim em que me posso deitar quase de dia, metade dos canais portugueses em sinal aberto passaram, em simultâneo, filmes do James Belushi. Um era com cães, como quase todos os filmes com o James Belushi. Cerca de muitos, dizem-me ali da cozinha. Dois filmes do senhor e, óbvio, pensei logo “Olha, morreu o James Belushi”. Por que outra razão dariam dois filmes com o James Belushi ao mesmo tempo? Quando morreu a Amália, eu cheguei a casa e reparei que estavam a dar filmes e documentários sobre a senhora. Coisas a preto e branco e com cantorias. Inocentemente, pensei que fizesse anos. Afinal tinha morrido e eu fiz figura de parvo. Não me lixam mais. O James Belushi até pode ter feito anos na segunda-feira. Mas para mim morreu.

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