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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Sim, é verdade que os Los Lobos até cantam a La Bamba, mas o original é do Ritchie Valens

pedro, 21.09.07


Na medida em que inclusive até visualizei um considerável trecho disso do râguebi, sou agora dono e senhor de um parecer relativamente a tão actual temática. Todos os desportos possuem algo no seu imo que me chateia ou, recorrendo a carga menos negativista, me faz coisar os nervos ao ponto de se verificarem incidências médicas. O râguebi não foge a essa regra, que ela corre depressa e passa rasteiras, a sacana. Quando digo todos, é todos mesmo. Não há cá meios-termos, só falo em termos absolutos e sempre acompanhando o discurso com murros na mesa. Logo, até o futebol tem coisas que me dão vontade de pontapear hemofílicos. Evidentemente, nos sítios onde doa mais aos hemofílicos, porque estou a tentar marcar uma posição de força. Não ando aqui a brincar aos pontapés em hemofílicos. No futebol, e só para ilustrar o paleio com um exemplo, esconjuro francamente aquela mania – arbitral, claro está – de, tentando criar um momento prenhe de carga poética, os indivíduos acabarem a bardamerda do jogo com a bola no ar, quase sempre, mas quase, quase, quase, mesmo quase, quase, quase sempre, vinda do guarda-redes. Árbitros, sobretudo vocês os dois, Olegário e Lucílio, façam-me o filha da madalena do favor de, se é para acabar o jogo, acabá-lo quando o guarda-redes tem a bola nas mãos. Vocês já me dão tanto, mas tanto asco, que não precisam de mais isto. A sério. Não me dêem esperança que ainda dá para marcar um golo, seus sádicos da poia. Em termos estéticos, até consigo, num dia em que esteja particularmente fraldiqueiro, admitir que aquilo dota o final de todo um outro quilate. Não obstante, madalena c’us desovou mais a mania das cargas poéticas. Vão brincar ao Camões lá no vasilhame da madalena da genetriz deles, ou o caraças, e não m’encham a cabeça de esperanças vãs. No futebol, chateia-me isto. E etc. Agora, para não parecer que sou uma daquelas pessoas que diz etc. porque já não sabe que mais acrescentar, vou dar mais dois exemplos de coisas. Yannick e Djaló. Com os outros desportos, mantém-se esta constância, e, nessa óptica, eu podia ficar aqui diversas linhas a apontar estorvos e aversões. No hóquei em patins – regra básica relativamente a tudo, mormente desportos: todas as modalidades que precisem de nome composto são, em rigor, mais ou menos semi-intrinsecamente-parvas –, não se vê a bola e é quase impossível marcar um golo de penalty. Um jogo que se baseia neste último pressuposto tem, logo à cabeça, um grave problema de prioridades e, como tal, deve ser extinto nuclearmente. Este último advérbio refere-se, como será de todo compreensível, à extinção por recurso a arma nuclear e não ao núcleo do desporto per se. A cena do rugby traz-me à memória um clássico dos desafios mentais de ampla camelice que consiste na mera troca de vocábulos na oração levando a que, semântica e outras coisas mente, dê que pensar e nos empurre para a introspecção, esse pardieiro de desilusões. Indo mais directo ao assunto, que isto também não é nenhum livro: o que é preferível, ser o mais burro dos inteligentes ou o mais inteligentes dos burros? Ora, e se ainda está confuso, tenho a dizer que Portugal é a melhor equipa amadora do mundo, facto que, inevitavelmente, e acompanhado da passagem para um patamar mais profissionalizado da coisa, a tornaria numa das piores equipas profissionais do universo. A meu ver, e, logo, a todos os veres de relevo, ficamos superiormente servidos com o título de melhor equipa amadora do mundo, sendo que, por conseguinte, o passo para o profissionalismo deve ser arredado e sovado ferozmente num beco, escuro ou não. Porque, afinal, o que fica, do desafio “o que é preferível, ser o mais burro dos inteligentes ou o mais inteligentes dos burros?” é o facto de, num dos casos, se ser o pior aluno da turma e, no outro, o melhor. O resto são ocorrências de somenos importância. Se pudemos ser os melhores do mundo, deixemo-nos estar e não vamos já pedir transferência para a turma dos inteligentes, a pensar que é chegar lá e partir a louça toda. Que não é. Todavia, e apesar disso, o râguebi devia, logo à partida, ser considerado peva em termos de desporto mundial. Não há espaço para um desporto em que a Nova Zelândia é a grande potência. É o mesmo problema do críquete, com a Índia. A Índia tem direito a ser uma grande potência naquilo que faz sentido que seja, doenças e indianos, e tudo o mais que ultrapasse esse infectado âmbito deve ser alvo de extermínio. Além de que, não fosse já isto matéria suficiente para encorpada sanha, chateia-me ainda um desporto em que eu saia para ir à cozinha fazer um pão e está zero a zero, e regresse nem passados cento e oitenta segundos, que eu ainda demoro a cortar queijo, para já estar quinze a zero para a Escócia. E aproveito para orquestrar um triunfal regresso à questão do amadorismo da selecção portuguesa. O râguebi até nisso enfada, que, aos amadores, só lhes parece estar destinado o papel de levarem mais de cem pontos contra uma Nova Zelândia em ritmo de passeio pós-operatório. No futebol, se o Sporting vai jogar contra uns nórdicos, levamos golos de gajos que, durante a semana toda, são carteiros e funcionários dos correios. Se os amadores nórdicos às vezes aviam o Sporting, e quase sempre o Benfica, e dão, em geral, chatices, será pedir muito aos Lourenços, Salvadores e Gonçalos do râguebi português que façam o mesmo contra as Novas Zelândias e Escócias? O que eu queria dizer, quando comecei isto, e entretanto perdi-me, é que não é por cantarem o hino aos gritos e a chorar que não devem ser recebidos em conformidade pelas derrotas que devem chegar perto dum point-average acumulado de trinta e cinco - trezentos e cinquenta. Pouco m’importa se são amadores, que exige-se coerência aos adeptos portugueses e, portanto, é preparar já uma recepção semelhante à que a selecção de futebol conseguiu algures em sete de dois mil e dois. Nem é por mim, é em nome da harmonia e do bom-senso. Se bem que gosto é de peixeirada em aeroportos. E, regra assim abrangente, em sítios.

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