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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

idade de consentimento

pedro, 09.11.07


Esperar, a arte que muitos com um tipo bastante específico de vesânia definem como ‘aguardar’ [nota do autor: denote-se o facto de andar desertinho para usar vesânia numa conversa e, derivado de ainda não ter conseguido tamanho feito – e decorrente de não saber como se articula, oralmente, a palavra -, não resisti e tive mesmo que espetar com a vesânia na primeira linha disto, sem me preocupar com sentidos, contextualizações ou o cacete alado], não é assim tão fastiento como isso. Procurar coisas é, de muito longe, pior. Se há para aí canalha que pensa que não é bem desta forma, que não é bem como eu enuncio, e que esperar pode, em determinadas circunstâncias, ser pior que procurar, deixem-me adiantar, antes que se formem mais ideias estupendamente camelares, e um tanto parvas, que estão iludidos, tão ou mais que qualquer pessoa que diga que uma mousse de chocolate com nozes é pior ou, no máximo, equivalente a uma mousse de chocolate sem nozes. Não é, mesmo que, no meio das nozes, vá um bocado de casca. De noz, que se for casca de batata, ou de tubérculos na sua generalidade, já levanta questões, designadamente de natureza deontológica, entre outras. As nozes, de que a mousse com nozes é exemplo supremo até eu achar que é outro, obedecem a uma dinâmica inversa àquela que rege as passas. Nozes é o tipo de coisa que melhora tudo onde é enfiado, ou, na pior das hipóteses, não piora; ao passo que as passas – repare-se como as figuras de estilo me saem sem eu ficar uma tarde inteira a pensar nelas, como fazia o Miguel Torga; quem não souber onde está uma figura de estilo, peça ajuda a um adulto – têm uma invulgar dificuldade que consiste, num sentido lato, na circunstância de nada, nadinha, ser melhor com passas. Peva, mas, culturalmente, insiste-se em passas com elevada constância. Nunca na história da humanidade, e o que mais para aí tenha havido antes da macacada e dos protozoários, há registo, real ou que eu tenha testemunhado num sonho, de alguém a dizer ‘isto até é bom, mas sabes o que falta aqui? Passas!’. Passas não fazem falta em nada e, para ainda se manterem em tanto quadrante da nossa sociedade alimentícia (é pavorosa a percentagem de bolachas que se deixam conspurcar por este fruto seco do diabo), só podem ter um potente grupo de pressão, o chamado lobby – que, já agora, é um nome que os cães chamados Bóbi confundem com o seu [facto comprovado de modo experencial por mim]. Porque, ò gentalha, é bom que se vão convencendo que tudo é produto de grupos de pressão. Em questões alimentares, então, isto é para lá de patente. Um exemplo, porque sei que há sempre cépticos em tudo. Quando eclodiu aquela suposta doença das vacas, cedo avistei o que aí vinha. O lobby da carne de porco (quem sabe, talvez também o da carne de galinha e esses pássaros) tinha inventado uma doença, contaminando, isso sim, a opinião pública com estes boatos maldosos, supostamente alicerçados em estudos científicos independentes. Nada mais adulterino. Estes estudos independentes só podem ter sido desenvolvidos por cientistas que, no cozido à portuguesa, preferem a carne de porco. Vai daí, e como não tinham nada a perder, porque continuavam a apreciar o cozido à portuguesa e sem ter que passar pela chatice de procurar os bocados de carne de porco entre os bocados de carne de vaca, toca a tentar lixar a carne deste último animal. A mim, em cenas, não me copulam, como se sabe. E, quando se anunciam essas supostas doenças – e este exemplo também serve para febres aftosas e aquelas constipações em pássaros –, o que há a registar, e com eminente agrado, é o facto de agora eu ir despender bem menos por um bife. Inclusive, no auge dos pássaros constipados, naquela altura em que bastava ver-se um chinês a espirrar na Mouraria para se instalar o alvoroço, larguei euro e vinte cinco por um frango assado. Não era meio frango, era um. Muito frango assado comi eu nessa altura. E eu sou o gajo mais porreiro de ser comer frango assado com. Porque sou acérrimo adepto do peito, deixando pernas (e outras bodegas, tipo asas, pescoços e rabo) para os outros. Dizem-me sempre ‘gostas do peito? O peito é tão seco’, mas eu gosto porque me calha sempre aquele bocadinho de plástico com o nome do aviário. O nome disto, de preferir o peito às pernas, é apenas um: altruísmo, sem tirar, nem pôr. Além do mais, gosto de manter os meus critérios estáveis, trate-se de preferências em termos de frango assado ou mulheres. Pois bem, quanto às passas, não há muito mais a dizer, e, reconhecida que está a incontestável existência dum forte grupo de pressão, nada mais há a fazer senão lutar. Comece-se por abalroar uma das bases mais consistentes das passas, aquela porcaria de comer as doze na passagem d’ano, uma por cada mês do ano. Ou badaladas. Ou apóstolos. Ou os patifes daquele filme. Não sei quem são os doze homenageados com essa ingestão de dúzia de passas, valha a verdade. Eu, desde a passagem d’ano noventa e seis para noventa e sete, como sempre é doze cajus e os anos têm-me corrido normalmente, com a vantagem de eu gostar de cajus e não me darem azia para o resto da noite. Se bem que, ainda ontem, recebi um carta electrónica, anónima, que dizia apenas “Estás a ver, meu cornúpeto, se comesses as doze passas, a bola batia na cabeça do Polga e ia para canto”. Só percebi que tinham enveredado pela ofensa depois de ir ver o que quer dizer cornúpeto, que até é daquelas coisas que passa por elogio. Independentemente disso, já entreguei o assunto às autoridades competentes, que, basicamente, sou eu, mas com um taco de bilhar afiado e dois amigos da chamada ciganagem hardcore. Entretanto, e em protesto para com a influência das passas e com o episódio da bola ter batido na cabeça do Polga e ter ido para a baliza, retiro-me para sempre destas lides até para a semana.

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