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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

obladì, obladà

pedro, 30.11.07


Pelo tom, mas só por isso, já percebi que não se deve deixar as sapatilhas no quarto. Ainda assim, nunca consegui ter uma resposta, nem me refiro a resposta decente ou mediana, é resposta sequer, para a questão “o que é que as sapatilhas estão a fazer no quarto?”. Sei lá eu bem ou o caraças!, como dizia um indivíduo que eu conheci em tempos e cuja única ocupação parecia ser a de dar rodagem a uma Toyota Hiace grená ou amarelo [acho que só se faziam nestas cores], se bem que ele substituía o caraças por outra palavra que, facto invulgar, era, e é, ainda é, uma asneira das grandes. Portanto, como dizia, pelo tom, percebo que não é suposto as sapatilhas estarem no quarto, porque noto ali aborrecimento e não simples desconhecimento e interesse relativo a que raio fazem as sapatilhas no quarto. Não se trata de metafisicamente questionar a acção das sapatilhas naquela zona da casa em concreto, é aborrecimento puro e simples. Nunca ouvi “o que é que as sapatilhas estão a fazer na despensa?”, mas, se ouvir, também não sei responder. Há perguntas que eu nem sabia que existiam, quanto mais que pode haver respostas para elas. Outro bom exemplo é o “como é que regaste as plantas?”. Ainda em termos de perguntas, convém lembrar que há dias me ligaram a perguntar se queria ganhar uma viagem para duas pessoas e, logo depois de ouvir isto, disse “quero pois” e perguntei “mas dá para ir só eu para ir à larga no avião, deitado ou assim?”. A pessoa disse que eu é que sabia, se queria ir sozinho ou acompanhado. Eu disse que não m’importa isso, importa-me é se posso ir deitado, assim de lado, no avião. Se ganho a viagem para dois, e vou só eu, é justo que o lugar do lado seja meu também e eu possa ir deitado, de preferência para a minha esquerda que é desse ouvido que ainda não me saiu alguma água do mar que lá entrou neste último Verão. Esta moça que telefona para casa dos cidadãos a perguntar se querem ganhar uma viagem para duas pessoas começou a dizer que não tinha a certeza, que isso ter-se-ia (óbvio que ela não usou este tempo verbal – usou um teria-se - impossível de catalogar, embora eu saiba que é um condicional, etc., qualquer coisa) que ver com a companhia área. Antes que ela pudesse avançar com mais pormenores de livre vontade e de protocolo, perguntei se passavam uns filmes no avião e se dava para passarem o Fim-de-semana com o Morto, o primeiro, que eu só vi o dois e não sei como é que o morto morreu, o que me deixou bastante à nora no acompanhamento da sequela. Ou então um filme qualquer que tenha o Neil Diamond a cantar nos créditos finais, que há diversos. Ou um que tenha a sleeping in my car, dos Roxette, e lá lhe perguntei “sabe qual é”, tendo, acto contínuo, começado a cantar o refrão. Como só sei aquela parte do “sleeping my car, I will não sei quê [nesta parte fiz um som parecido com belest you]”, repeti-a três vezes. A partir daqui ela começou a tentar falar por cima do que eu dizia e lá a ouvi por uns segundos. Diz que teria que me deslocar a um endereço e apanhar com uma reunião sobre, pareceu-me, aspiradores, mas é possível que fosse um coiso de limpar alcatifas só com o vapor. Interrompia-a logo aos gritos, com a seguinte argumentação: “mas isto são horas de telefonar para casa das pessoas?, não sabe que eu sou guarda-nocturno e que ligar a estas horas é como ligar para casa dum professor primário às quatro da manhã?, “como deve calcular, meio-dia são quatro e meia da manhã no meu fuso horário!”, “têm esse hábito por aí, de ligar para casa de professores primários às quatro da manhã?”. Entretanto, a chamada caiu, mas este tipo de dinâmica, cem por cento verídica, ocorre sempre caso perguntem, ao telefone, por um qualquer nome que não seja o meu. Verifica-se que não tenho coragem de dizer estas coisas em meu nome. Motivo de assinalável orgulho é o seguinte facto: aqui há coisa de aquando daquilo do Rei de Espanha ter perguntado ao Hugo Chávez porque é que ele não se calava, eu convenci um meu conhecido da inteira factualidade da seguinte parvoíce: o Rei de Espanha tinha mandado calar o Hugo Chavéz porque ele, Hugo, tinha jogado no Real Madrid nos anos oitenta e marcava muitos golos de pontapé de bicicleta, tendo o Rei de Espanha ficado melindrado com ele, Hugo, devido ao seguinte facto: Chavéz tinha, no auge da sua carreira, alegado ordenados em atraso para rescindir contrato com o Real de Madrid, o clube do coração do Rei, para assinar com o seguinte clube: o Chivas de Guadalajara, do México, acontecimento que debilitou consideravelmente o clube do Rei, levando a que perdesse o campeonato na última jornada para um clube rival: o Atlético de Madrid, ou: a Real Sociedad. Daí que, ainda lixado com isso, o Rei se tenha enervado e mandado calar o Hugo Chávez. A princípio, o meu conhecido mostrou-se descrente, mas eu logo recorri a truque infalível. Gritei para um indivíduo que estava lá mais além “olha lá, o Hugo Chávez não jogou no Real Madrid?” e, crente que estava que, no calor da pressão, muita gente confunde os apelidos Chávez com Sánchez, lá obtive resposta amplamente positiva, através dum “jogou” acompanhado dum positivo abanar de cabeça. Depois eu queria era estar presente quando as pessoas que eu convenço destas coisas passam a informação a outras, lá no emprego, mas tenho que me contentar com o imaginar. O que mais me lixa nisto tudo de mandar calar pessoas é o facto de ninguém acreditar que uma vez mandei calar o Freitas do Amaral. Fiz-lhe um shhtta! no cinema, ali no Monumental, que ele ria-se de coisas sem piada e tinha um daqueles risos de pessoa que tem a mania só porque lê livros. Quem conhecer o Freitas sabe que isto é verdade, que ele se ri assim e se ri em cenas em que não faz sentido rir, um daqueles risos de “ah, ninguém se vai rir nesta cena, mas vou-me rir eu, que assim passo por indivíduo culturalmente evoluído”, mas não, a verdade é que passa por parvo, que eu bem sei quando é que é suposto achar piada a coisas no cinema; logo, ora bem, quem conhece o Freitas, acredita em mim e sabe que isto aconteceu mesmo. Agradece-se, então, que, via carta registada, alguém que conheça o Freitas me faça chegar declaração a validar a autenticidade deste meu shhtta! no sentido de ocorrerem uma diversidade considerável de acontecimentos, todos eles facilmente enquadráveis nessa bela arte do meter-nojo.

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